quarta-feira, 29 de setembro de 2010

NADA


Agora estou pensando em nada, porque em nada posso pensar sem me preocupar com o todo, já que o nada é a razão da inércia do pensamento, me torno o nada, mas nunca neutro a ele, porque nada é vazio, mas penso o nada e não sou ele. Assim sendo, tenho tênues motivos para dizer que mesmo pensando em nada, estou em algo – um espaço – que me foi colocado com imposição do físico, onde a arbitrariedade da permuta entre nada e espaço são continuas, necessária e por vezes sórdidas.
A solidificação do nada está representada pela ação que o pensamento me move a pensar ‘em nada’, justaposta ao silêncio do vazio, onde o nada ocupa espaço ao mesmo tempo em que o espaço é ocupado pela matéria; estando essa imóvel as ações e ao olhar, determino a neutralidade da escuridão que me cerca como ajuda incondicional para pensar ‘em nada’, em um relato sobre a escuridão vejo apenas os piques de pensamento transcenderem um após o outro.
Queria por vezes voar mais alto, pensar mais alto, compreender mais facilmente algumas colocações, mas quando me reparo com o contexto, seja qual for, tenho por mim uma interpretação fundamentada em vivência própria, até julgo por vezes esse ato como preconceituoso. Todos nós temos esse pensamento de precoce entendimento dos atos, fatos, assuntos por alguma análise inicial, cabe a nossa história humana pessoal coloca-lá da melhor maneira possível, para que não pareça ou transpareça ignorância.
Ficar pensando em nada então, nada mais é do que tentar não expressar um sentimento precoce sobre idéias ou ações humanas, um ato impossível a um sujeito social que está cercado de diferentes outras ações que lhe atacam constantemente, seja em um olhar ou uma conversa passageira do outro. Esse ‘nada’ pode querer um refugio do mundo, sem aparente explicação, mais com entonação decidida.
Nesse instante – particular – estou tentando em nada não pensar, mas foi apenas uma ilusão, estou realmente pensando em algo há algum tempo, mais queria fingir que isso não era pensado, então decidi falar sobre o nada, apenas para passar o tempo e refletir sobre outra coisa mais interessante, que as pessoas esquecem de fazer, mas passam horas fazendo sem perceber.

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