terça-feira, 19 de julho de 2011

Vago


Eu havia realmente me perdido no devaneio humano, nas imperfeições do cotidiano, na vivência rotineira com as pessoas normais, porque assim me tornei como elas. Meus sonhos caíram em um dia e logo se estruturaram as alusões imperfeitas de um mundo irreal, somente hoje posso perceber que as coisas não são mais da forma que um dia foram, que as plantas não mais tem a mesma textura, ou seria meu tato que não tem mais a mesma sensibilidade? Seja como for, as formas se alteraram e assim prosseguiram.
Não posso descrever esse processo como evolução, pois ele parece ser tão tragável a corruptibilidade (o que particularmente me enoja). Tenho a suave sensação que apenas vivendo no meio dos homens comuns que posso sentir como eles as dores de um cotidiano. Degrada a pele e o espirito saber que nada mais será como antes, que em minha pequinês quase infantil me perdia em pureza, crendice maldita que me abduziu ao sonhar em dia ser eu apenas uma pequena cópia do adulto que tanto admirei. Hoje, posso confirmar como adulto que sou, não ter nada mais lindo que a pureza da inocência, em um dia pensar que todos seriam felizes ao mesmo tempo, irrisório!
Vejo como os pais alimentam seus filhos de expectativas, que são tiradas de outros filhos. Muito me machuca ver tanta competição para fuga da pobreza material, na troca pela riqueza espiritual, esqueci da minha índole por alguns instantes ao buscar ascensão, e desejo hoje que nunca mais possa sentir a mesma coisa.
Meu carmas e pensamentos se reprimiram em apenas palavras dispostas ao vento longo da noite vazia, que aparentemente assim transparece, mas nunca estaria tão vazia senão fossem os pequenos fragmentos de recordações que guardo dentro de mim, sejam eles bons ou ruins, portanto a vaguidão nunca foi realmente presente, o que me veio a pensar que apenas por alguns instantes ela existiu foram apenas as lembranças e não os atos. Temos em nós a imprudência de preenchimento das horas por relações ocupacionais, o que nos faz apenas pensar na velhice, porque dela a única coisa que resta é apenas a aparente vaguidão, sem atitudes.
Me dê essa velhice para elevar meu ser, me compreender e ao mesmo tempo relativizar tudo o que fiz, essa velhice eu busco em momentos oportunos. O que me faz livre são os momentos vazios, longe de pessoas e vidas, longe de tempos e fomentos, longe de noites e obeliscos, longe de marcas, apenas por lembranças quero me preencher nesse instante.
Talvez eu seja vago para você, mas nunca estive tão cheio de sobriedade, penso e faço ao mesmo tempo, para que eu ao menos minimize a dor de ter passado por cima de minha pureza a troca da material e indissolúvel vida humana, pragmática a morte e ao desejo.